Poemas

Todos os pretensos poemas que posto nesta aba são de minha autoria.

ÍNDICE
1 - DESEJO SECRETO OU MORADA DA POESIA
2 - CONVERSA DE PASSARINHO
3 - DOR
4 - DONANA
5 - VARIAÇÕES SOBRE O MESMO TEMA


DESEJO SECRETO OU MORADA DA POESIA

Eu queria ser apenas
A morada da poesia.
Onde ela placidamente habitasse.
E quando eu quisesse
Ela apareceria à janela.
Ou sairia de casa, radiante
Para tomar um sol.
Ou para ver a lua, a chuva,
Que importa?
Só era preciso que saísse de mim
Da fertilidade do meu peito inchado,
Do meu ventre e do meu caos.



2 - CONVERSA DE PASSARINHO

Provocando os descuidados
- Bem ti vi, bem ti vi!
Sol a pino, o melro convida:
- Oh, Chico, vamo tirá leite, vamos!
- Amanhã eu vô, amanhã eu vô!
Responde preguiçosa a carimbamba.
Pede chuva o sabiá laranjeira:
- Tem dó, piedade, sinhô!
- Morre qué hora, morre qué hora.
Decreta agourento o acauã.


3 - DOR

Confinamento num mundo sem cor.
Numa das alas, parada cardíaca.
Na outra, choque anafilático
Próximo à infecção generalizada.
Resignação transitando ao redor.

Jovens meninas de aventais brancos
Combatem. Atenção permanente
O estetoscópio no pescoço
Olhares atentos aos painéis
Mãos ao alcance do desfibrilador.

A maca passa com o operado
Saindo do centro cirúrgico.
Rumo ao tratamento intensivo.
Sinais gráficos na tela do computador
E uma sombra negra no corredor.


4 - DONANA

Cantigas de roda,
Vem brincar de ciranda
Pique pega, sue lobo já vem
Queimada, Donana.

(Você está comigo!)

No paroimpa tirei seu nome
Pra jogar do meu lado
Vem comigo, prá cá
Que vamos ganhar mais essa
Até que a morte
Nos separe, Donana.



5 - VARIAÇÕES SOBRE O MESMO TEMA

AH, DIADORIN

Ah, Diadorin, meu passarin.
Toquei seu corpo já morto
E também morri.
Essa falsa vida que arrasto
É apenas lembrança.
Lembrança de ti.


ROSA

Poeta, rainha das flores.
Em seu nome: uma mulher.
Rosa do sertão, espinhos pontiagudos.
Sol escaldante.
Sofrimento e morte,
Violência e dor.

Canto dos passarinhos,
Barulho das veredazinhas
Farfalhar de buritis.
Amor desconsertante
Redenção e morte.


CACTO ROSA

Porque tu tens, poeta
Nome de flor e de mulher.
Mesmo aparentando ser
Cactácea do sertão.
De dia, espinhos pontiagudos.
Sol escaldante, violência e pó.

Apenas à noite, florida.
Flor branca e cheirosa,
Menino riozinho.
Segredo feminino.
Canto de passarinhos,
Barulho de veredazinhas,
Farfalhar de buritis.